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Começa o Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio

04/09/2017
DNA HOSPITALAR -

Campanha abre discussão para o tema e incentiva formas de prevenção

A taxa de suicídio por 100 mil habitantes foi de 4,33, em 2005, para 5,72, em 2015 (última contagem disponível), na Baixada Santista, segundo dados da Fundação Seade. Nesses 10 anos, o número de mortes subiu de 68 para 100. O índice é maior do que o verificado no Estado de São Paulo, que subiu de 4,12 (1.615) para 5,56 (2.393) na década. 

 

A quantidade de pessoas que tiram a própria vida vem crescendo ao longo dos anos em todo o Brasil. Números do Ministério da Saúde mostram que são 32 brasileiros mortos por dia, total superior ao de vítimas da Aids e da maioria dos tipos de câncer. Para especialistas, nove em cada 10 casos poderiam ser evitados com encaminhamento correto ao tratamento.

 

Segundo especialistas, os idosos ainda estão em maior número entre os que tiram a própria vida no País. Mas a proporção de jovens vem crescendo aceleradamente. Dados do Mapa da Violência mostram que os suicídios aumentaram 33% nos últimos 10 anos entre pessoas de 15 a 29 anos. Em 2014, foram 2.898 casos de pessoas desta faixa etária. Outras 146 cometeram suicídio antes dos 15 anos. 

 

Para o renomado psiquiatra paulistano Guido Palomba, a questão está sempre relacionada a uma mente perturbada, que precisa de acompanhamento e tratamento. “É sempre um transtorno mental, não existe suicídio em mente normal. Porque o instinto mais forte e primário do ser humano é o de preservação (da vida). Quando você se volta contra esse instinto, você está sempre doente”.

 

Campanha

 

Justamente com o objetivo de reverter o aumento crescente das mortes surgiu no Brasil, em 2014, o Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção ao suicídio. Iniciada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), com apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a campanha aborda a tentativa e a concretização do ato de se matar como um problema de saúde pública.

 

A psicóloga Elis Cornejo, pesquisadora no Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, de São Paulo, explica que a iniciativa já existe desde 2003 em outros países, pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e Organização Mundial de Saúde (OMS). “A campanha é importante para a conscientização da população a respeito do problema de saúde, pública que é o suicídio, no Brasil e no mundo, e quais são as formas de preveni-lo”. 

 

Para ela, falar de suicídio é uma forma de quebrar o tabu sobre o tema. “A OMS estima que cerca de um milhão de pessoas se suicidam por ano no mundo. A prevenção depende de cada caso, mas como suicídio é uma expressão de sofrimento, podemos traçar algumas diretrizes, como identificar algum transtorno mental. Hoje, sabemos que a depressão está associada ao suicídio. Prevenir é trazer qualidade de vida para a pessoa”, destaca Elis. 

 

Mestre em Ensino em Ciências da Saúde, a psicóloga Luciana Cescon ressalta que o tema não pode ser silenciado. “Estudos sobre prevenção de suicídio apontam que falarmos sobre sinais de alerta e onde buscar ajuda é essencial para diminuir o número de mortes. O estigma de ver o suicídio como pecado, loucura ou covardia muitas vezes impede que quem está pensando nessa possibilidade possa falar sobre isso e receber apoio especializado”.

 

Discutir o assunto é necessário

 

 “É assunto que durante décadas ficou embaixo do tapete social, ninguém ousava discutir. Ainda hoje é um grande tabu”, dispara o voluntário e porta-voz do Centro de Valorização da Vida (CVV) em Santos, Renato Caetano. Para ele, é importante discutir como as pessoas podem melhorar a qualidade de vida e evitar o suicídio.

 

“O CVV tem tido a preocupação, há muito tempo, de mostrar que pessoas comuns podem prestar apoio emocional. Nós não temos capacitação profissional. E o interessante é que hoje você pode orientar a pessoa a buscar ajuda profissional com mais tranquilidade. Antes, quando se falava em ir no psicólogo, era comum aquela resposta ‘eu não sou louco’”.

 

Para ele, o papel do CVV é ser acolhedor. “As pessoas que procuram o CVV, na maioria das vezes, apresentam uma característica, independentemente do problema que traz: a solidão. As pessoas estão se sentindo solitárias. Talvez ela não esteja sozinha, está numa casa cheia de gente, num trabalho cheio de pessoas, mas o que acontece é o que a atinge emocionalmente que a deixa isolada”.

 

Caetano diz que, em muitas oportunidades, a pessoa com problemas mentais passa a ser ignorada, fica invisível perante os outros. “Falar com essa pessoa não é violência, pelo contrário, é muito acolhedor. Você chegar e falar ‘eu estou aqui para conversar’. O que percebemos é que a maioria das pessoas tem uma fome de ser ouvida, é algo desesperador. Poder falar é muito importante”.

 

O representante do CVV lembra que, quando alguém não está bem, passa por dificuldade ou ansiedade, precisa se ouvir - e faz isso desabafando com outro.

“Muita gente desabafa e fala: ‘parece que tirei um peso dos ombros’. E é isso o que acontece. A gente previne o suicídio nessa hora, não precisa chegar naquele momento trágico”.

 

Caetano explica que os suicidas não são maioria entre os que ligam para a central. “É gente que não está bem porque a família está longe, que não trabalha no que gosta, que está desempregada. Não estão falando de suicídio, mas estão angustiadas”. 

 

O dia 10 de setembro é o preconizado pela ONU para a prevenção do suicídio, mas o CVV conseguiu expandir o tema para o mês inteiro, criando o Setembro Amarelo

 

Fonte: Site A TRIBUNA