Novo teste genético promete maior precisão no diagnóstico do câncer de mama
Desenvolvido pela Fiocruz, exame aponta que medicamento oferece maior chance de cura e menor risco de efeitos colaterais para cada paciente
Por Época Negócios
Uma nova metodologia de análise genética promete levar às pacientes com câncer de mama um diagnóstico personalizado capaz de indicar qual o tratamento mais eficaz, com menos efeitos colaterais. O trabalho está sendo desenvolvido pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que já planeja até a criação de uma startup para levar a novidade ao mercado, dentro de até dois anos.
De acordo com Tatiana Tilli, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz, uma parceria deve ser firmada ainda neste ano com o Hospital do Câncer A.C. Camargo, em São Paulo, para a validação clínica (ou seja, realização de testes com pacientes). As análises in vitro já foram feitas por Tilli na Universidade de Alberta, no Canadá. Atualmente, já existem alguns kits voltados à análise genética do câncer de mama. Porém, como afirma Tilli, esses testes detectam mutações no DNA da paciente e indicam para o médico o nível de agressividade daquele tumor. Vale destacar que esse tipo de procedimento é caro e não está disponível para a população que depende exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde).
A principal diferença do teste criado pela Fiocruz é que, em vez de focar nos genes que compõem o DNA, ela avalia o RNA mensageiro, para saber como esses genes estão se expressando na prática. Isso permite identificar que alterações estão de fato presentes no tumor. Essa análise envolve não só a avaliação do tecido tumoral (obtido por meio de biópsia ou durante a cirurgia), mas também do tecido saudável da paciente. Assim, é possível saber que alterações são específicas do tecido tumoral. “Tudo aquilo que só aparece no tumor é um bom alvo”, afirma Tilli.
Segundo ela, essa abordagem traz para o médico uma perspectiva mais realista da doença. “Nosso teste ajuda o médico a tomar decisões importantes. Diante desse resultado, ele pode saber qual tratamento tem maior chance de cura e menor risco de efeitos colaterais”, afirma a pesquisadora. O laudo fornecido pela Fiocruz, aliás, já indica qual o fármaco mais indicado para cada caso – outro grande diferencial da proposta. De acordo com Tilli, os Estados Unidos gasta, por ano, US$ 1 bilhão no tratamento do câncer de mama. Deste total, 70%, segundo ela, são destinados ao tratamento dos efeitos colaterais – que vão muito além da queda de cabelo. A quimioterapia pode gerar, entre outros problemas, estomatites, taquicardia, depressão do sistema imunológico (o que torna a paciente mais vulnerável a vários tipos de infecção), diarreia e rash cutâneo (erupções na pele). Além disso, após a quimioterapia, a paciente pode enfrentar problemas de fertilidade.
“Não temos dados relativos ao que ocorre no Brasil, mas acredito que não seja muito diferente nesse sentido”, diz Tilli, referindo-se ao percentual gasto com efeitos colaterais do tratamento do câncer de mama. A expectativa, diz ela, é que o Ministério da Saúde futuramente ofereça às pacientes atendidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) essa nova análise criada pela Fiocruz. Se estivesse no mercado hoje, o teste custaria cerca de R$ 5 mil, estima Tilli. “É um valor ainda alto, que esperamos reduzir, mas que poderia diminuir os gastos do governo com o tratamento dos efeitos colaterais, além de melhorar a qualidade de vida das pacientes.”
A iniciativa já foi contemplada pela Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) por meio do edital Apoio ao Empreendedorismo e Formação de Startups em Saúde Humana do Estado do Rio de Janeiro. Isso garante um investimento inicial para que a novidade possa ser disponibilizada o quanto antes à população.